sexta-feira, 25 de junho de 2010

FRITJOF CAPRA, FÍSICO OU AMBIENTALISTA?

Capra é mundialmente conhecido por suas preocupações com a complexidade do meio ambiente e da mente humana, mas sua abordagem anti-reducionista da alfabetização ecológica é profundamente reducionista, já que, ao ignorar a cultura, apregoa sua extinção.

O físico Fritjof Capra esteve recentemente no II Fórum Social Mundial em Porto Alegre. Nesta ocasião, defendeu a idéia de uma alfabetização ecológica. Segundo o autor, cujas idéias são amplamente difundidas no Brasil e no mundo, a situação da crise ambiental é tão grave que fez com que ele deixasse de lado suas preocupações com a física quântica para trabalhar no que denomina de ?alfabetização ecológica?. Em seu livro A Teia da Vida, Capra descreve a alfabetização ecológica através de seis princípios: Interdependência, Ciclagem, Parceria, Cooperação, Flexibilidade e Diversidade. Para Capra (1996), a sabedoria da natureza é a essência da eco-alfabetização. ?Reconectar-se com a teia da vida significa construir, nutrir e educar comunidades sustentáveis, nas quais podemos satisfazer nossas aspirações e nossas necessidades sem diminuir as chances das gerações futuras.?(p.231)
Até aqui, a proposta de Capra parece não ter muitos problemas, pelo contrário, é bastante instigante e até bonita. Mas vejamos o que ocorre quando entramos no campo da ética. Em primeiro lugar, Capra esquece que, como nos diz Foucault, o mundo adquire sentido pela linguagem, pela nomeação, e a alfabetização ecológica é apenas uma dentre inúmeras formas de classificação e nomeação possíveis. Mas este ainda não é o maior problema, afinal, toda ciência implica em uma certa redução. O que é ampla e indiscutivelmente criticável é que Capra reduz toda diversidade, incluindo a diversidade cultural, aos seis princípios da alfabetização ecológica e alega ser esse o modo ?correto? através do qual poderíamos conceber a natureza e a nós mesmos.
O maior problema está na ética da alfabetização ecológica. Para Capra (2002), somos moradores da casa terra e devemos nos comportar como se comportam os outros moradores dessa casa ? as plantas, os animais, e os microorganismos que constituem a vasta rede de relações que chamamos ?teia da vida?. Dito de outro modo, nós devemos, observar como se comporta o mundo natural, para daí extrair princípios morais para os comportamentos humanos. Esse naturalismo ético nos leva à extinção da cultura. Por essa razão, decidi começar este comentário com uma provocação, dizendo que uma das lições da alfabetização ecológica é a da extinção da cultura. Capra quer reduzir a política, a ética, a estética, enfim, a cultura, aos princípios de sua alfabetização ecológica. Capra é mundialmente conhecido por suas preocupações com a complexidade do meio ambiente e da mente humana, mas sua abordagem anti-reducionista da alfabetização ecológica é profundamente reducionista, já que, ao ignorar a cultura, apregoa sua extinção. Uma das lições que podemos tirar disto é que precisamos estar permanentemente vigilantes em relação a discursos que tratam de soluções abrangentes e universais.

2 comentários:

  1. É uma pessoa realmente dedicada ao meio ambiente,poís não é fácil largar seus objetivos com relação a Física, para lutar em prol do meio ambiente.É um exemplo para muito cientista!!!!!!!!!!!

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  2. Rapaz, falando de reducionismo, para reduzir a perspectiva de Capra deste jeito e isso mesmo. Voce quer aplicar antropologia, ou arte, e ativismo para ele, pode fazer tudo isso sem condenar ele com ataques de "reducionismo". As industrias e executivos lucrando em bilhoes tirado do seu pais, e deixado tambem, estao "aplicando" a ideologia de maximizacao de lucros e eliminacao de oposicao muito bem na reducionismo aplicado deles, obrigado. No outro lado, Greenpeace se plantou no pais usando o modelo deles internacional e baseado na ciencia "reducionista", no Cristo Redentor, o simbolo classica de que? valores pessoais, universais, aplicados, e frequentemente corruptados. Amigos da Terra (Friends of the Earth) tem um modelo de ativismo em que eles ficam representados com grupos locais ligando a rede deles. O assunto e mais sofisticado, particularmente no lado da ecologia. Espero que tudo isso ja e entendido por vc, mas se nao, eu recomendo um estudo maior das filosofias e historias abrangentes. Deve da uma olhada na Economia Ecologica, Ecopsicologia nem menos, e no Instituto Socioambiental em Bahia, premiado por o Premio Ambiental Goldman para ver uma "aplicacao" brasileira dos prinicipios da Antropologia e Ativismo. Na verdade, a "aplicacao" e para VOCE. Dando uma olhada nos premios Goldman e um outro, The Right Livelihood Award (Premio Sustento Justo) vai dar varios exemplos de ativistas lutando e construindo pela "aplicacao" dos principios "reducionistas." Uma outra maneira de exprimir isso seria, "principios" e "exemplos de aplicacao". Sugiro vc abraca esta vista. Sou americano e brasileiro gracas a meu pai, e tenho vivido tudo isso e encarado no rosto. Um abraco no espirito do MST e CPT, premiados pelo Premio Right Livelihood. (veja meu site ecovilatresmagos.blogspot.com para um projecto comecando a traducao em portugues destes sites em ingles)

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